Blue Desert será a futura estação experimental de Vellsam.

María Zamora, Directora-Geral, em entrevista ao El Agro Auténtico

María Zamora Cervantes é uma das empresárias mais conhecidas da zona rural de Almeria. Tem um longo historial. Juntamente com o seu marido Francisco Castillo, fundaram a Vellsam no verão de 1999, uma empresa familiar que, ao longo dos anos, se transformou numa multinacional com presença em 46 países de quatro continentes. Eis o excerto completo da entrevista ao El Agro Auténtico, na qual falam do início da temporada em Almeria com vista ao futuro, aos novos projectos que se abrem a partir de agora, mas recordando as origens de uma empresa que sempre cresceu mantendo-se fiel a alguns valores muito firmes.

PERGUNTA: Quais são esses valores?

MARÍA ZAMORA: Não cortem nas despesas, não mintam. Ser transparente. Transmitir valores para ter companheiros de viagem, amigos e não clientes. Fazer as coisas bem feitas e sem pressas.

PERGUNTA: A velocidade é importante?

MARÍA ZAMORA: É. Quando não há pressa, as coisas consolidam-se. Sem pressa caminha-se e cresce-se melhor.

PERGUNTA: Como mulher, é um exemplo a seguir no sector…

MARÍA ZAMORA: Quando faço este comentário, penso sempre no papel das mulheres no desenvolvimento da agricultura em Almeria. Que mérito tiveram elas, juntamente com os seus maridos, em fazer crescer todo este modelo agrícola a partir do nada! É de louvar. Nos anos 90, fui vice-presidente da AMFAR, a Federação das Mulheres e Famílias Rurais, a nível nacional e presidente a nível local em Almeria, com o objetivo de defender o papel crucial das mulheres no mundo rural.

PERGUNTA: A vossa empresa é exemplar na visibilidade das mulheres, nos valores em que se baseia e também no modelo de família que representa. Orgulha-se disso?

MARÍA ZAMORA: Muito. E ainda mais agora que todos os nossos filhos fazem parte do projeto comum que é Vellsam. Primeiro, a Maria juntou-se a nós há anos, depois o Paco e, mais recentemente, a Rocío.

PERGUNTA: Parabéns. Mais coisas, María. Chegámos a este enclave em Almeria junto à Plataforma Solar de Tabernas, onde estamos?

MARÍA ZAMORA: Estamos no local da nossa futura quinta de investigação, com sete hectares, que esperamos esteja pronta no próximo ano. Blue Desert será a futura estação experimental de Vellsam. Foi esse o nome que lhe demos. Blue Desert, deserto azul, em alusão à forma como a agricultura pode ser desenvolvida em climas subdesérticos. Há muitos projectos de I&D que queremos implementar a partir daqui.

PERGUNTA: Por exemplo…

MARÍA ZAMORA: Dividiremos a quinta em módulos para efetuar múltiplos testes. Por exemplo, micorrizas, tricodermas, novos hidrogéis para reter e otimizar a água, tendo em conta os problemas da seca. Procuraremos soluções para poder manter a produção agrícola consumindo menos água e menos fertilizantes inorgânicos.

PERGUNTA: É fascinante ver como a Vellsam cresceu desde o seu início até aos projectos que pretende levar a cabo atualmente. Mas lembra-se de como eram os primórdios?

MARÍA ZAMORA: Claro que sim. Lembro-me de ter apresentado o húmus de minhoca aos agricultores do campo de Níjar em 1986. Passaram muitos anos. Lembro-me da criação da Vellsam, em 19 de julho de 1999. No início, vendíamos ácidos húmicos e fúlvicos, mas rapidamente nos apercebemos de que tínhamos de diversificar e também de exportar para o estrangeiro. Em 2002, a Argélia foi o primeiro país para onde vendemos. Ninguém acreditava que fosse possível, mas foi assim que começámos a abrir-nos ao estrangeiro.

PERGUNTA: Apercebeu-se de que havia um longo caminho a percorrer se se tornasse internacional?

MARÍA ZAMORA: Sim, apercebemo-nos disso logo no início. E nessa abertura compreendemos que não podíamos ser rígidos nos nossos produtos, que tínhamos de nos adaptar às particularidades das diferentes áreas de produção. Se houvesse um problema, apanhávamos um avião e íamos visitar o cliente. Sempre estivemos e continuamos a estar próximos dos nossos clientes.

PERGUNTA: Têm uma fábrica em Tabernas e instalações em Níjar e Aguadulce. Também estão envolvidos numa fábrica em Alexandria (Egipto) desde 2016 para fabricar NPK e têm uma delegação comercial na Colômbia. Com esta vasta experiência, indique-me uma zona do mundo que esteja a crescer.

MARÍA ZAMORA: Se for uma zona, por exemplo, os países asiáticos. Índia, Malásia, Indonésia, Vietname ou Tailândia, entre outros.

PERGUNTA: Por último, com a mente de um viajante, pode citar um país que o tenha surpreendido particularmente nas suas muitas viagens?

MARÍA ZAMORA: Cazaquistão. Pelos seus palácios, pela sua cultura e história e pela simpatia das suas gentes. Um grande desconhecido que vale a pena conhecer.